Hoje ele é um
dinossauro. Ontem foi um peixe e antes de
ontem um cavalo. Minha casa pode ser uma selva, um zoológico ou uma savana,
tudo para agradar o nosso pequeno rei. Não que brincar com o nosso filho seja
um problema, nada disso, é que as coisas estão tomando proporções sérias demais
para o meu gosto.
Fábio é o mestre das imitações.
Quando me casei, nunca poderia imaginar que ele era uma fonte tão rica de
brincadeiras.
Certo dia, encontrei penas de
galinha. Sim, penas de galinha espalhadas pela casa, e a desculpa foi a mais
deslavada possível: era para dar um tom de realidade para a brincadeira. Eu me
pergunto até hoje onde ele conseguiu aquilo, mas é melhor não saber. Só de
pensar que fui surpreendida com cacarejos no chuveiro... São latidos, miados,
berros, arrulhos e zumbidos todos os dias.
A gota d´água pingou semana passada. Manhã de quarta-feira. Eu desliguei o despertador e me
espreguicei na cama, despreocupada, quando ouvi um “ronc, ronc, ronc” perto de
mim. Arregalei os olhos de susto, mas logo me lembrei que casei com o mestre
das imitações, e deixei pra lá.
Mas, segundos depois, lá veio de novo: “ronc, ronc, ronc!” Disse-lhe para
parar com a brincadeira, mas ele continuou ainda mais alto.
Virei-me, irritada, e quase caí da cama quando vi um porco rechonchudo e
sujo deitado ao meu lado. Seus olhos esbugalhados, vidrados nos meus, me
deixaram em pânico. Gritei, desesperada. Ele estava com o pijama do meu marido
e até cheirava como ele. Como pode?
Afastei-me da cama devagar, e o
porco veio junto. Fiz menção de que ia sair do quarto e o porco fez “ronc,
ronc, ronc” para mim. “O que faço agora?”, pensei. O porco me encarava, atento,
e eu permaneci imóvel, retribuindo aquele olhar tão familiar, que não parava de
me seguir.
Eu e o porco nos viramos juntos,
olhando para a porta, quando meu filho entrou com os seus passinhos saltitantes
e serelepes.
– Não dê mais nenhum passo! – gritei.
Nenhum dos dois me obedeceu, um
foi ao encontro do outro com uma velocidade animal, eu quis dizer, sem igual.
Parecia até que já se conheciam.
– Olha, olha! É o papai! Ele virou um porco!
– Deixe de besteira, filho. Esse não é o seu pai!
– Papai virou um porco! Papai virou um porco!
A frase ecoava na minha cabeça como marteladas:
– Papai virou um porco! Papai virou um porco!
Então, de sobressalto, acordei, suando e pedindo peloamordedeus que não
tivesse um porco ao meu lado. Ambos, Fábio e meu filho, estavam na sala.
Brincavam, adivinhem de quê? De um pai que, de repente, de um dia para o outro,
resolveu virar um porco!
Autora: Tayane Meireles
Ilustração: Giulia Moon.
Este conto fez parte de uma das atividades práticas do Escrevivendo Menos é Mais.
Ilustração: Giulia Moon.
Este conto fez parte de uma das atividades práticas do Escrevivendo Menos é Mais.
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